domingo, 15 de abril de 2012

O primo rebelde e o primo tranquilo

Um era rebelde, o outro tranquilo. Um era o primo rebelde. O outro, o primo tranquilo.

Um se adapta ao sistema. O outro questiona qualquer tema.

Um quer entrar no mercado. O outro quer criar um novo mercado.

Um quer descansar, o outro quer inventar.

Um é o primo rebelde, o outro o primo tranquilo.

Ambos são advogados. Um é advogado que da pequenos golpes. O outro defende grandes golpistas corporativos

Um vende seguro de carros. O outro analisa o mercado de seguro de carros para os bancos decidirem se investem nisso.

Um quer enganar a elite. O outro sabe que se você enganar a elite é porque ela não é elite. Pois a elite é elite justamente por não se deixar enganar.

Um tenta burlar o seguro. O outro trabalha no cálculo de riscos dos bancos e insere no custo dos seguros as pessoas que conseguem burlar provisoriamente, prevendo o custo da investigação e o lucro futuro da grande multa que essas pessoas terão.

Um é self made man da malandragem, quer ser livre e ser um golpista independente. O outro topa ser sócio bem menor desde que o grandioso golpista chefe crie uma bela justificativa corporativa (incluindo a função social) e lhe dê carteira assinada.

Um era o primo rebelde, o outro o primo tranquilo.

Um, como todo pequeno burguês adolescente, gosta de se gabar de sua amoralidade, gosta de afirmar que esta acima da moral pequeno burguesa. O outro, como um agregado da grande burguesia, não pratica a moral pequeno burguesa, mas adora defendê-la com frases prontas e argumentos pré-fabricados por ideólogos corporativos.

Ambos tem preocupação social. Um termina o dia dando aula em colégio de estado falido e participa da greve dos professores do estado. Outro é executivo muito bem renumerado de uma ong educacional presidida por um banqueiro que ajuda os pobres com dinheiro incentivado do Estado falido.

Um era o primo rebelde. O outro , o primo tranquilo.

sábado, 14 de abril de 2012

A rica trisinha e a rica histérica

Duas mulheres ricas conversam. Uma realmente triste, outra falsa alegre:

“Quer arrumar novo marido?

“ Claro. É o que sempre digo: nunca negue um casamento. Ex nunca é demais. Cada um, é uma nova pensão.”

“Marido. No inicio, é muito rugido.”

“Mas no fim chegará o dindin querido.”

“Nunca concordei com isso. O dinheiro só nos distrai.”

“Só?? Você acha pouco?. É difícil me distrair querida. Precisa de muito dinheiro para me distrair minimamente”.

“Eu esperava mais da vida.

“Você sempre foi muito ambiciosa.”

“Eu só queria encontrar algum sentido”

“Ideologia.. Eu quero uma pra .. Vender”

“Eu queria uma para comprar”.

“Como eu disse, você sempre foi muito ambiciosa˜.

“ Eu não agüentaria ser como ti.”

“ Como mim como?”

“ Você só pensa em futilidades...”

“ A vida é curta, minha filha!”

“Por isso mesmo. Não tem sentido desperdiçá-la em futilidades. A vida é feita para construirmos algo realmente sólido.”

“Ah... O sólido! Nada contra os sólidos. Sabe que eu até gosto? Mas ao final, depois de muito atrito, acaba sempre saindo um liquidozinho.”

“ Não vejo graça em suas piadas vulgares”

“ Nem toda piada é para rir, minha querida.”

“É uma piada séria, é?”

A piada é séria/ Serio/ A piada é fraca/ Fraco/ A piada é cara/ Claro/ Pois o mundo é chato/ Fraco”

“Poetisa agora?”

“Adoro distrações, minha querida”.

Serie Mulheres Ricas. ESCRAVOS CASEIROS

Admiro muito os cariocas. Eles são mais sábios. Sabem, por exemplo, ter um escravo de forma sutil, sem incomodar os convidados da casa.
Paulista gosta de ostentar escravos. Bota ele com outra roupa, formal, quieto, de garçom. Depois rola sequestro e ninguém sabe porque.
Carioca é diferente, mais humano. No ambiente de uma festa carioca até o escravo parece ser um igual. Todos sabem que ele é um escravo e, mesmo assim conversam, com ele como se fosse normal. Acho isso lindo.
Os escravos até vestem roupas parecidas as nossas. Clones falsificados, obviamente. Mas nao é bonitinho? Acho lindo os escravos terem o desejo de ser igual a nós, é a fantasia que move o mundo. Por isso sou a favor da pirataria de roupas: é importante o escravo se auto-marcar com a roupa falsificada, usar ela e saber sempre que não é original. Sem a pirataria o escravo desistiria de achar a elite superior e teria outros desejos.
Obviamente (e isso é o mais legal!) apenas o dono e seus eleitos tem o poder de mandar no escravo durante a festa. Os convidados da festa não podem mandar no escravo do dono. Aí os donos se destacam, sutilmente. Isso é sabedoria: um poder sutil, mas sempre presente. E ainda não fica aquela coisa de estranha de ter no meio da festa uns garçons que não participam! Isso é a essência de nosso pais: diversidade! Todos participam! Todos sao iguais, mesmo os escravos.

Serie Mulheres Ricas. ESCRAVOS CASEIROS

Admiro muito os cariocas. Eles são mais sábios. Sabem, por exemplo, ter um escravo de forma sutil, sem incomodar os convidados da casa.
Paulista gosta de ostentar escravos. Bota ele com outra roupa, formal, quieto, de garçom. Depois rola sequestro e ninguém sabe porque.
Carioca é diferente, mais humano. No ambiente de uma festa carioca até o escravo parece ser um igual. Todos sabem que ele é um escravo e, mesmo assim conversam, com ele como se fosse normal. Acho isso lindo.
Os escravos até vestem roupas parecidas as nossas. Clones falsificados, obviamente. Mas nao é bonitinho? Acho lindo os escravos terem o desejo de ser igual a nós, é a fantasia que move o mundo. Por isso sou a favor da pirataria de roupas: é importante o escravo se auto-marcar com a roupa falsificada, usar ela e saber sempre que não é original. Sem a pirataria o escravo desistiria de achar a elite superior e teria outros desejos.
Obviamente (e isso é o mais legal!) apenas o dono e seus eleitos tem o poder de mandar no escravo durante a festa. Os convidados da festa não podem mandar no escravo do dono. Aí os donos se destacam, sutilmente. Isso é sabedoria: um poder sutil, mas sempre presente. E ainda não fica aquela coisa de estranha de ter no meio da festa uns garçons que não participam! Isso é a essência de nosso pais: diversidade! Todos participam! Todos sao iguais, mesmo os escravos.

sábado, 7 de abril de 2012

Um homem, uma toca. Uma bibliotoca

Ele era pobre, mas tinha muitos livros
Demorou para casar, pois não queria se separar deles. Não era toda esposa que aceitava sua vida passada. Em seu pequeno apê o pequeno quarto dos fundos ficou apenas para eles. Os livros. Fez uma biblioteca tão apertada que chamou de bibliotoca!
Mal dava para se mexer lá dentro.
Ele não podia agachar de forma normal, pois batia o joelho na estante do meio. Foi assim que aprendeu a fazer scapate. Livro também é saúde.
Dentro da bibliotoca ele era um homem feliz! Só sentia falta de um pouco de ar e de sua amada esposa. Ela nunca entrava lá. Nunca.
A bibliotoca era mesmo muito apertada. Um dia, finalmente, conseguiu convencer a esposa a entrar nela. Ela entrou, apertada. Ele entrou depois, apertado. E fechou a saída.
Ela perguntou como sair da bibliotoca. Ele respondeu, tentando disfarçar sua imensa alegria: “Ficaremos presos aqui para todo o sempre”. Ele acordou nessa hora. Foi só um sonho.

Era um bom homem. Pacífico. Vivia para os livros. Tanto que a esposa o largou e novos livros puderam ocupar o quarto. E a bibliotoca seguia firme.

Um dia ele entrou na bibliotoca com o lanche do almoço em mãos. Lanchão dos bravo. Ele comia enquanto pesquisava. Já gordinho, sua barriga encheu ainda mais. Ele ficou entalado na bibliotoca. Fechou os olhos, queria acordar. Mas dessa vez não era um sonho.

Foram 2 dias, muito suor e 6 necessidades básicas (por cima e por baixo) que – para seu horror – tocaram em partes de alguns livros. Mas finalmente, após tanta limpeza conseguir desentalar. Com ajuda dos bombeiros ele saiu arrastando e derrubou vários livros. Dias depois ele condenara todo esse setor de livros entaladores de homem a morte em fogueira.

Não foi uma decisão fácil. Ele sabia que tinha um complô. Mas não sabia quais dos livros eram os culpados. Seriam todos? Ele entendeu o mal estar deles de viver em uma senzala tão apertada. Mas era necessário para continuarmos juntos. Decidiu conter a rebelião com força.

Foi assim que decidiu punir os mais próximos, os que foram seus carcereiros no momento da prisão. Explicou que não tinha provas contra eles, mas que, se nenhum livro confessasse, ele teria que punir alguém para dar exemplo. Seriam eles: os livros entaladores de homem.

O silêncio foi imenso e durou minutos. Nenhum livro se manifestou.
Foi assim, com tristeza imensa, que ele decidiu cumprir a sentença. Todo aquele setor de livros foi a fogueira. Inteiro, inteiro. Uma tristeza.
Mas a vida é assim mesmo... Cheia de sacrifícios.
Em sinal de pesar, no lugar aonde viviam os livros queimados, ele construiu um monumento em memória das vítimas.

Desiludido, decidiu viajar. Andou pelo mundo, mudando de roupas e de careca. Só uma coisa se manteve estável em sua vida: sua caixa de livros. A bibliocaixa. Seja aonde estiver a bibliocaixa flutuava a sua frente, amparada apenas por seus rígidos braços esticados ou pelo carinhoso colo que ele oferecia a seus filhinhos queridos. Ele nunca despachou a bibliocaixa. Afinal, ela não era bagagem.

Foram anos felizes, viagem atrás de viagem ao lado de sua bibliocaixa, com pequenas paradas para escolher os próximos livros que iriam passear. A bibliotoca era seu porto estável, e a bibliocaixa era sua unidade móvel.

Mas agora sua vida é a dor nas costas. Ele não pode mais levar sua bibliocaixa para passear.
Mas ele continua querendo viajar o mundo.
Seu novo sonho é bibliotoca móvel. Um container fino e comprido, nas dimensões do quarto, que pode ser carregado com ele aonde ele for. E com ele dentro.
Morreu assim: dentro da bibliotoca estável, sonhando com o dia em que ela seria móvel.